Depressão, ansiedade e quadros dolorosos em tempos de quarentena

No atual período de quarentena causado pela pandemia do novo coronavírus e da COVID-19, indivíduos com transtornos psiquiátricos, como depressão e ansiedade, podem encontrar maior dificuldade para manter seu tratamento devido ao isolamento social.

Dor crônica está frequentemente associada a comorbidades como ansiedade e depressão. Quando há quadros dolorosos associados aos transtornos mentais citados, pode ocorrer piora da qualidade de vida, e tal piora pode se intensificar com o isolamento.

Por mais que as dores físicas não estejam inclusas nos critérios que contemplam os sintomas principais da depressão ou da ansiedade, muitos pacientes relatam esse desconforto. De fato, pode haver relação entre tais transtornos mentais e dor física, apesar de os mecanismos responsáveis por essa associação não estarem ainda completamente elucidados. Além disso, depressão e ansiedade podem intensificar a percepção de dores já sentidas antes e causadas por outros problemas de saúde.

“A dor não está entre os critérios de diagnóstico da depressão, isto é, não é um sintoma do transtorno. Entretanto, sabe-se que pessoas com depressão têm maior sensibilidade à dor e que pessoas com quadros de dor crônica têm mais chances de desenvolver depressão. Logo, existe, de fato, uma correlação entre dor e depressão”, afirma a psiquiatra Erika Mendonça.

A Dra. Ana Cláudia Ducati, também psiquiatra, ressalta essa associação entre depressão e dor: “A dor que se associa à depressão é aquela que surge quando um indivíduo deprimido tem piora de um quadro doloroso já existente. O fato de estar deprimido também pode fazer com que ele acabe percebendo a dor de maneira mais intensa”, explica a médica.

Depressão pode estar associada a quadros de dor crônica

Um dos tipos de dor que pode estar associada a casos de depressão e ansiedade é a dor neuropática. Considerada crônica, esta dor específica resulta de uma lesão no sistema nervoso, que pode ser provocada por diversas condições, como infecções (por exemplo, herpes), diabetes, alcoolismo e traumas. Possíveis sintomas de dor neuropática incluem queimação, agulhadas, formigamento e choque.

A dor neuropática também pode provocar hipersensibilidade a estímulos não dolorosos, o que resulta, por exemplo, em sensação dolorida por estímulos simples e cotidianos, como o contato da pele com a roupa ou outros objetos. É possível que a dor neuropática seja contínua ou intermitente, assim como leve, moderada ou intensa, o que depende do grau de acometimento dos nervos envolvidos. O indivíduo pode, inclusive, sofrer com o incômodo em diferentes regiões (braços, pernas, tronco).

O tratamento da dor neuropática varia de acordo com a gravidade do quadro, dentre outros fatores. É possível utilizar uma série de medicamentos, como anticonvulsivantes, antidepressivos e opioides, dependendo do caso e conforme recomendação médica. Reabilitação e tratamento psicológico são de grande valia nesses quadros. Alguns casos específicos podem precisar de intervenções cirúrgicas.

Práticas simples para ajudar no tratamento

Além disso, o paciente pode se beneficiar muito de outras práticas, que atuam como adjuvantes no controle de sintomas, incluindo dores físicas. Como exemplo, pode ser citada a prática de atividades físicas. As opções ficam mais restritas estando dentro de casa, mas é possível, de acordo com o condicionamento físico individual, realizar abdominais, flexões e agachamentos, por exemplo.

É válido ainda apostar nos exercícios físicos que trabalham a respiração, como o yoga. A meditação, que também tem foco na respiração, é outra prática que pode ajudar a amenizar sintomas depressivos e de ansiedade. Realizar atividades prazerosas, como hobbies, e se conectar com entes queridos, seja em casa ou por ligações de vídeo, também são atitudes importantes para os pacientes porque ajudam a amenizar os desconfortos provocados por condições que afetam a saúde mental.

A alimentação é outro ponto importante no tratamento desses distúrbios psiquiátricos. O ideal é, especialmente em quadros de ansiedade, evitar ingerir café, chá preto, refrigerantes, chocolate e bebidas energéticas. O consumo excessivo de bebida alcoólica e o tabagismo também são desaconselhados de forma geral, incluindo para pessoas com transtornos de ansiedade e depressão.

Referências:

Neuropathic pain: mechanisms and their clinical implications | Steven P Cohen, Jianren Mao | 2014 | http://accurateclinic.com/wp-content/uploads/2016/04/Neuropathic-pain-mechanisms-and-their-clinical-implications-2014.pdf

Neuropathic Pain: A Maladaptive Response of the Nervous System to Damage | Michael Costigan, Joachim Scholz, and Clifford J. Woolf | Annual Review of Neuroscience | Julho de 2009 | https://www.annualreviews.org/doi/10.1146/annurev.neuro.051508.135531

GORMSEN, Lise et al. Depression, anxiety, health‐related quality of life and pain in patients with chronic fibromyalgia and neuropathic pain. European Journal of Pain, v. 14, n. 2, p. 127. e1-127. e8, 2010.

 

Fonte: Cuidados pela Vida